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Alerta de spoiler: escrita em esquizoanalês

22 de abril de 2020

Em julho fará um ano de uma reviravolta profissional com muitos atravessamentos e complexidades. Algumas perdas em relação a experimentações que ainda não foram suficientemente reinventadas. Sinto falta do cotidiano na intensidade da presença necessária e potente do estar, cuidar, educar diversas crianças as quais não pari. As paridas ganharam, de rebote, toda a presença e atenção que eu desejaria dar às minhas outras crianças...


Esse escrito, no entanto, apesar de fazer lembrar dos sorrisos e abraços que não mais vivi da mesma maneira, veio da potência desse novo formato da atuação profissional: a oficialização do consultório como centro do meu lugar de trabalho.


A Clínica sempre esteve presente em minha vida. A Clínica sobre a qual discorremos com o adjetivo ampliada, adjetivo que em minha perspectiva de trabalho é uma redundância de fins micropolíticos. Meus atendimentos em psicoterapia executados na graduação foram, por criteriosa escolha, direcionados apenas a crianças, jovens, casais e famílias. Atender adultos ficou restrito a toda essa clínica extra consultório - grupos, plantões, instituições, projetos mirabolantes... Formada com todas as preocupações de uma psicologia política e social, sua relação com o mundo atual e sua atuação em meio às instituições em geral, o consultório particular pós-faculdade iniciou sua história um tanto mais tarde, no ano de 2015. E foi, então, em 2019 o momento de virada que tornou o consultório o centro de minha vida profissional, atendendo na modalidade psicoterapia individual, em maioria, pessoas adultas.

Após o casamento de seis anos de graduação com os três de mestrado, vivi a crise da vida conjugal acadêmica. Uma ruptura com muitas auto-cobranças e ressentimentos Demorei um ano pra conseguir falar qualquer coisa sobre a pesquisa após a defesa. Em meio às atuações com infância e educação enveredei por caminhos poéticos cada vez mais em choque com a minha overdose de academicismo. Nesse desbaratinamento a arte foi fazendo morada em mim, a dança ganhando um lugar já há muito sonhado e o cantar um lugar nunca antes imaginado... Assim, passados tempos, trabalhos, Universos, há muito não me dedicava com tanto afinco à leitura meticulosa e ao estudo minucioso dos meus referenciais teóricos mais basais. E hoje, a rede acalentou o trabalho árduo de uma psicóloga ativa em tempos de pandemia e reuniu o devir-clínica pulsante com seus intercessores primevos.


Tradução: Caralho! Que delícia! Não estudava assim há um tempão! (Ou, não achava uma delícia estudar assim há um tempão!)


Considerações da autora: Rios nunca dantes navegados trouxeram com surpresa a clínica-consultório. A clínica-consultório foi fazendo morada e crescente demandou maior tempo, maior lugar, maior pertencimento... Assim, não se sabe se fora as correntezas, as marés ou a pororoca, sabe-se apenas que a clínica-consultório emergiu como uma ilha em meio às águas doces e oceânicas e se fez rainha. Esse reinado tem sustentado a vida criativa pré e em pandemia, marcada pelo amor nas relações terapêuticas, tema, este, de um próximo ensaio esquizoanilitiquês. Por ora fico com o encontro entre dois amores, a teoria e a prática, ou para efeitos de uma frase final, a Crítica e a Clínica.

Nas mãos: Crítica e Clínica, Gilles Deleuze.

Foto: Miguel Peters

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